Um Arqueólogo de Volta Para o Futuro
Ouvindo a voz das Pedras
Por Geraldo Gabliel
RODRIGO SILVA
Rainbow St. Al
WWXG+JV Amman
JORDAN – MIDDLE EAST
Há quem diga que o mundo é pequeno. Geh Latinus discorda. Quando se tem amigos espalhados pelos sete continentes, cada mensagem recebida é uma janela aberta para o infinito. Desta vez, quem bate à porta da curiosidade é Rodrigo Silva — doutor em Teologia e Arqueologia, apresentador do programa “Evidências” e diretor do Museu de Arqueologia Bíblica do UNASP. Ele escreve direto do Oriente Médio, onde o solo fala, as pedras contam histórias e o céu parece guardar segredos milenares.
Rodrigo não está lá a passeio. Está em missão. Entre escavações e reflexões, ele mergulha nos mistérios da Terra Santa, onde o Judaísmo nasceu e onde a arqueologia bíblica tenta decifrar os ecos de reis, profetas e peregrinos. Em uma de suas citações em vídeo sobre a Festa das Cabanas — Sukkot¹ (que se comemora no próximo dia 06 de Outubro) — ele nos lembra que ser o “fruto perfeito” é mais do que uma metáfora: é um chamado à vida íntegra, como viveu Yeshua, o exemplo maior de conexão com o Criador.
Desde as nossas aulas sobre Arqueologia Biblica no UNASP nos anos 90’s, o Professor Rodrigo Silva² já nos contava:
– O Oriente Médio, esse caldeirão fervente de fé e história, é mais do que cenário: é personagem. Ali, o hebraico ressuscitou das cinzas linguísticas graças a visionários como Eliezer Ben Yehuda. A culinária kosher, com suas regras precisas, revela um povo que transforma até o ato de comer em ritual. E Israel, a “Nação Start-up”, mostra que tradição e inovação podem caminhar lado a lado.
Mas nem tudo são festas e descobertas. Rodrigo também nos lembra das diásporas, das perseguições, das fugas e da resiliência judaica. Desde os tempos bíblicos, os judeus cruzaram impérios, absorveram culturas, resistiram à conversão forçada e mantiveram viva a chama da sua identidade. Na Baixa Idade Média, quando a religião moldava o destino humano, os otomanos — vindos das regiões armênias — iniciaram conquistas audaciosas. Em 1453, tomaram Constantinopla e transformaram o Império Otomano no último herdeiro do Império Bizantino, estendendo seus domínios da Península Balcânica ao Golfo Pérsico.
Com a investida otomana sobre a Palestina e a Arábia, os lugares sagrados do Judaísmo e do Islã passaram a integrar um único bloco político-religioso. Convertidos ao islamismo, os otomanos não impuseram sua fé, mas respeitaram o pluralismo religioso por meio dos Estatutos Dhimmis. Judeus e cristãos, embora considerados “cidadãos de segunda classe”, podiam viver, trabalhar e professar suas crenças mediante o pagamento de tributos.
Quando conflitos locais favorecem a Diáspora e levam bênção ao mundo
E, digo eu: – Desde a infância eu pressentia que havia um quê de Judaísmo em meu DNA. E foi, recentemente, pesquisando no Family Search que confirmei na minha árvore genealógica que muitos dos meus antepassados eram judeus cristãos-novos/sefarditas. E milhões de brasileiros também o são, e não sabem disso:
– A expulsão dos judeus da Espanha em 1492 gerou a diáspora sefaradi. Perseguidos pela Inquisição e pelos Estatutos de Pureza de Sangue, milhares de judeus e cristãos-novos buscaram refúgio no Império Otomano. Bayasid II, sultão entre 1481 e 1512, acolheu os refugiados e criticou a decisão do rei espanhol Fernando II. Essa recepção criou vínculos duradouros: Gracia Mendes, viúva de um magnata judeu-português, tornou-se conselheira dos sultões Suleiman e Selim II. Joseph Nassi, seu genro, foi nomeado Duque de Naxos e Tiberíades.
Sob proteção otomana, os Sefaradim reorganizaram comunidades na África do Norte, nos Bálcãs e no Mediterrâneo. Safed, na Galileia, tornou-se centro místico do judaísmo graças a sábios como Isaac Luria. Os judeus contribuíram com o Império em áreas como comércio, finanças, diplomacia e colonização. Em 1577, famílias sefaradim foram transferidas para Chipre, reforçando a presença judaica nas novas conquistas.
E também vieram para o Brasil. Embora sejam pouco citados na nossa História, é possível que, desde a frota de Cabral em 1500, nosso país, há pouco tempo “descoberto” pelos lusitanos, recebia uma grande leva de judeus sefarditas: navegadores, escrivães, juízes… e os Bandeirantes? Pesquise lá pra ver. Muitos deles gerando grande descendência por aqui – eu, sendo um deles. (Sobrenomes Silva, Coelho, Oliveira…).
A chave da estabilidade otomana estava no sistema Millet — uma organização administrativa que permitia às comunidades religiosas autonomia para preservar suas tradições, costumes e línguas maternas, desde que cumprissem suas obrigações legais e recolhessem os impostos devidos ao Estado. Esses tributos sustentavam o sultão e a elite dirigente, que se beneficiavam das riquezas do império. A harmonia social era o objetivo maior: o sultão, elo entre governantes e governados, garantia a separação pacífica entre os grupos culturais, reduzindo conflitos e consolidando uma sociedade multicultural.
Cada Millet era liderada por um chefe religioso, responsável pela administração interna e pela relação com o poder central. Em 1836, foi criado o cargo de Chacham-Bashi, rabino-mor do Império, com autoridade sobre as comunidades judaicas, inclusive na Palestina. As Millet mantinham escolas, hospitais, tribunais e sistemas próprios de arrecadação. A corte do sultão em Istambul, conhecida como “La Sublime Porte”, era o centro dessa engrenagem de respeito e tolerância.
Por que se as pedras falam, a gente escuta, e conta pra você!
Rodrigo Silva, ao escavar ruínas e decifrar inscrições, não busca apenas pedras — busca sentido. E ao compartilhar conosco suas descobertas, ele nos convida a olhar para o Oriente não como um lugar distante, mas como um espelho da nossa própria busca por origem, pertencimento e transcendência.
E, já se anuncia por que aqui que a aventura de visitar os 7 continentes nesta série de Crônicas será inesquecível. Estou a receber notícias e curiosidades da Grécia com André Reis; dos EUA com a Menina Manu; do Canadá, com Bernardete; da Tailândia com Diego Zanchet; dentre outros… não perdemos por esperar!
Geh Latinus agradece ao seu professor Rodrigo Silva por essa correspondência que mais parece uma aula viva. Que venham mais cartas, mais vídeos, mais histórias. Porque quando os amigos escrevem do outro lado do mundo, o mundo inteiro parece caber dentro de uma crônica.
Ah! Geh confirma sua presença ainda nesta semana à Pós-Graduação em Arqueologia, História e Interpretação da Bíblia com Rodrigo Silva pelo UNASP.
– “Presente Professor!
“Ha’adam lo yuchrash bidei tzaruch, ela yuchrash bidei ratzon”.
Cacoal, RO – 04 de Outubro de 2025.
¹ https://www.instagram.com/reel/DPXCJlbjrcG/?igsh=MWp4a2xvcHZiYXczbA%3D%3D (Festa de Sukkot)
² https://www.instagram.com/p/DLVvVyJgdYP/?igsh=MTFwNnl3dzV2ajB0dg%3D%3D (Rodrigo Silva)
https://www.morasha.com.br/comunidades-da-diaspora/os-judeus-do-oriente-medio.html (Cultura Judaica)