Da Redação: Um novo estudo mostra que os cães prestam atenção não apenas ao jeito que falamos com eles, mas também às palavras em si. Pesquisadores descobriram que os animais conseguem identificar frases com significado mesmo quando inseridas em longas sequências de fala neutra — aquela em que não usamos o famoso “tom de voz de cachorro”.
A pesquisa, conduzida por Root-Gutteridge e colaboradores (2025) e publicada na Animal Cognition, investigou como os cães processam trechos de fala contínua e se são capazes de reconhecer expressões familiares dentro de discursos aparentemente irrelevantes.
Como o experimento funcionou
Os cientistas testaram 49 cães, de idades e raças variadas. Os tutores foram gravados lendo textos longos e monótonos. No meio dessas leituras, havia dois tipos de frases:
- uma frase com significado direto para o animal
(ex.: “[nome do cão], come on then!”) - uma frase sem relevância para o cão
(ex.: “[nome genérico], pass me a coffee!”)
As gravações foram feitas em dois estilos:
- Dog-Directed Speech (DDS) — o tom animado e exagerado que usamos para conversar com cães;
- Neutral Reading Prosody (NRP) — fala neutra, sem alterações de entonação.
Os resultados foram claros:
Os cães reagiram mais ao conteúdo significativo quando ouviram o registro DDS.
Mas também reagiram mais à frase significativa mesmo no estilo neutro, quando comparada com a frase sem sentido.
Ou seja: mesmo sem entonação especial, os cães conseguem captar trechos importantes dentro de um discurso contínuo.
O que isso muda no entendimento da cognição canina
O estudo desafia a ideia de que apenas humanos conseguem segmentar a fala e identificar significado dentro de longas sequências verbais. Os autores sugerem que os cães usam processos mais complexos de segmentação fonêmica do que se imaginava.
A entonação exagerada ajuda, mas não é indispensável. Mesmo na fala comum do dia a dia, os animais são capazes de selecionar informações relevantes.
A descoberta tem impacto em duas frentes:
Na prática, abre espaço para novas estratégias de interação, treinamento e terapias assistidas, já que os cães conseguem perceber mais do que simples comandos isolados.
Na ciência, reforça a hipótese de que a habilidade de extrair sentido da fala pode não ser exclusiva dos humanos, aparecendo também em espécies altamente socializadas.
Os pesquisadores sugerem que estudos futuros investiguem o peso da familiaridade com a voz do tutor, o contexto da interação e a idade do cão nessa capacidade de reconhecimento.
Em resumo, os cães não apenas reagem ao tom carinhoso ou animado: eles distinguem palavras relevantes em meio ao nosso discurso comum, o que amplia o entendimento sobre como nos comunicamos com outras espécies.


