Com autorização inicial para durar 60 dias, a presença de agentes e viaturas da Força Nacional em Mossoró (RN) — com o objetivo de ajudar as autoridades locais a capturar os dois fugitivos da penitenciária federal — foi mantida por 36 dias. A saída do reforço policial na região foi chamada de “mudança de estratégia” pelo secretário de Políticas Penais do Ministério da Justiça, André Garcia, em entrevista ao JR Entrevista. A procura por Rogério da Silva Mendonça, 36 anos, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, 34 anos, apelidado de Deisinho, chega ao 46º dia neste sábado (30).
“O que está sendo planejado é uma mudança de estratégia, mantendo as forças locais fazendo os trabalhos de execução de buscas e ao mesmo tempo intensificando as investigações. Nós acreditamos que vamos, com as investigações, com o trabalho de inteligência policial, realizar a recaptura dos dois”, afirmou Garcia.
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Entre 20 de fevereiro e 21 de março, a força-tarefa já custou R$ 1.682.709,54 aos cofres públicos. A maior parte dos gastos foi da Força Nacional. O Ministério da Justiça e Segurança Pública enviou 500 agentes do órgão para Mossoró, e só com diárias gastou R$ 1.026.188,75.
Além disso, até 15 de março, foram pagos R$ 115.446,02 em serviços de manutenção e abastecimento das viaturas empregadas na operação. Por fim, até 18 de março, a Força Nacional teve uma despesa de R$ 103.914,44 com o plano de saúde dos agentes que participam da missão.
Os dados foram obtidos pelo R7 via Lei de Acesso à Informação. Esse valor pode ser ainda maior, pois não inclui as despesas da PF (Polícia Federal) e da PRF (Polícia Rodoviária Federal), que também atuam nas buscas.
Os fugitivos Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça, suspeitos de terem ligações com o Comando Vermelho, no Acre, já foram vistos em diversas ocasiões. No entanto, os investigadores não conseguem capturá-los.
Especialistas em segurança pública ouvidos pelo R7 avaliam que falhas estratégicas e demora para reação dificultam a captura dos dois fugitivos. Os detentos escaparam na madrugada de 14 de fevereiro, mas, segundo nota divulgada pelo Ministério da Justiça no início do mês, a PF e a PRF chegaram em Mossoró dois dias depois, na manhã de 16 de fevereiro.
Para o especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna, entre os fatores que podem ter relação com as dificuldades de captura dos presos está a demora até que a fuga fosse percebida na penitenciária. “Essa demora é extremamente prejudicial, caso se queira fazer uma captura em um curto espaço de tempo”, afirmou.
Sant’Anna aponta ainda a demora até que as forças se reuniram para realizar a busca. “Esses elementos, realmente, colocam as instituições públicas em uma situação extremamente delicada”, avalia.
Para o também especialista em segurança pública Antônio Testa há indícios de que houve conivência de pessoas de dentro do sistema prisional para a fuga. “Em teoria, eles estavam incomunicáveis. Então, para eles organizarem uma fuga, eles teriam que ter se comunicado com alguém”, acrescenta.
Veja a seguir a cronologia das buscas pelos fugitivos de Mossoró:
• 16/2
Moradores disseram ter visto a dupla em diversas ocasiões. Dois dias após a fuga, Deibson e Rogerio teriam feito uma família refém, na zona rural de Mossoró. Neste dia, a polícia também encontrou pegadas, calçados, roupas, lençóis e uma corda, além de uma camiseta do uniforme da penitenciária, em uma área de mata.
• 22/2
Três pessoas foram presas em flagrante por supostamente terem facilitado a fuga dos detentos.
•23/2
O primeiro grupo da Força Nacional, em missão pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, iniciou suas operações em Mossoró (RN). Os agentes vêm colaborando com a Polícia Federal em bloqueios de rodovias para auxiliar na busca e captura de dois fugitivos do presídio federal na região.
• 26/2
Um homem identificado como Ronaildo da Silva Fernandes foi preso por suspeita de ajudar os fugitivos. Ele é dono de um sítio em Baraúna, município na zona rural do RN que fica na divisa com o Ceará, e teria recebido R$ 5 mil para abrigar Deibson e Rogerio por oito dias.
• 27/2
Os fugitivos foram vistos em um vilarejo no Rio Grande do Norte. Segundo informações obtidas pela RECORD, os moradores do local reconheceram Deibson e Rogerio, que voltaram para a mata antes da chegada da polícia.
• 1º/3
Durante a madrugada, a Polícia Federal acionou helicópteros, drones, equipamentos que captam calor humano e cachorros farejadores, que sentiram o cheiro dos fugitivos e percorreram 600 metros, mas sem êxito. Àquele momento, as autoridades acreditavam que os foragidos estavam perdidos e sem ajuda, já que os rastros indicavam que estavam voltando para o estado, em vez de tentar fugir.
• 3/3
Forças de segurança cercaram uma fazenda em Baraúna, após moradores da região relatarem ter visto os foragidos durante a madrugada. Os dois teriam invadido uma propriedade rural e agredido um agricultor. De acordo com policiais que participam das buscas, os detentos roubaram outros moradores.
• 20/3
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, prorrogou a atuação da Força Nacional em Mossoró (RN) por 10 dias. A portaria com a medida foi publicada no Diário Oficial da União.
• 29/3
Força Nacional deixa as buscas e governo anuncia que usará nova estratégia baseada em inteligência policial e investigação.